Festa secular, registrada como bem imaterial, a tradicional Festa de São Benedito tem seus primeiros registros no ano de 1904. No entanto, sabe-se que ela é bem mais antiga que isso. Parte importante dos festejos, os Ternos de Congo e os Caiapós, trazem a cultura e a influência negra e indígena, em uma manifestação de fé que mistura santo católico e toques de tambor, e acontece de 1º a 13 de maio, em Poços de Caldas.

No início do século passado, a Festa de São Benedito era a única diversão e distração para a população menos abastada da cidade. Enquanto Poços vivia seu sonho de ser uma cidade europeia, que recebia artistas, políticos e a elite do Brasil e do estrangeiro, e tudo era feito e construído pensando neste grupo seleto, as pessoas mais simples se viam obrigadas a sustentar este status alheio, vendo-se destituídas de qualquer benefício de estrutura e lazer.

O festejo era o momento do encontro, da diversão, da comida típica, da cantoria, das batidas dos tambores, das procissões, e da fé. Era o momento em que essas pessoas podiam ser elas mesmas e que os veranistas não eram os protagonistas.

A festa era composta por barracas espalhadas em volta da Igreja de São Benedito, com comida típica, doces, quentões, tudo feito e vendido pelas pessoas da comunidade. No início, tudo era muito rústico, inclusive o chão de terra batida. A festa era realizada na primeira capela dedicada ao santo, onde hoje se encontra a Igreja Matriz (Basílica Nossa Senhora da Saúde). Com a mudança da igreja (onde ela se localiza atualmente) e com o decorrer dos anos, melhorias foram feitas, o que deixou a festa mais confortável.

O tempo passou, e algumas coisas mudaram. A festa, que era organizada pela Irmandade de São Benedito, passou a ser coordenada pela Diocese de Guaxupé, que realizou algumas mudanças. As barracas, passaram a ser das paróquias da cidade, que ultimamente, passaram a oferecer pratos que não têm ligação com a gastronomia popular e típica. Algumas barracas da comunidade passaram a ter seu lugar do lado de fora do pátio da igreja, à sua volta.

Os rituais contam com benção na Capela de Santa Cruz, procissão até a Igreja de São Benedito e hasteamento das bandeiras dos Ternos de Congo, no dia 3 de maio, data em que é comemorado o Dia de Santa Cruz.

No dia 11, acontece a retirada dos Caiapós do mato, cerimônia que se inicia na Fonte dos Amores, conta com procissão pelas ruas centrais e termina na Igreja de São Benedito. Este ritual tem grande significado e beleza. Mestre Bucha, embaixador do Terno de Congo de São Benedito, explica no início do ritual, que se trata dos negros indo ao encontro dos indígenas no mato, quando aconteceu a abolição, em retribuição a toda a ajuda que receberam contra o domínio dos brancos, quando fugiam para as matas e eram acolhidos pelos indígenas, que conheciam bem a vida no mato, pois era seu habitat natural.

No dia em que a cidade comemora o Dia de São Benedito, 13 de maio (lembrando que o Dia de São Benedito é 5 de outubro, no entanto, em Poços de Caldas comemora-se no dia 13 de maio), é feriado e dia da missa com os Ternos de Congo e Caiapós e procissão pela cidade.

As procissões, sem dúvida, são de arrepiar. A mistura de cores, vozes e sons que vêm dos instrumentos de percussão, animam e emocionam quem acompanha. Cada integrante dos grupos traz um significado para os festejos. A entrada na Igreja de São Benedito, também é maravilhosa. Lá dentro, o som reverbera ainda mais, e a mistura de tantas tradições em um só momento parece algo fora do comum. E é. Antes os grupos não podiam entrar na igreja. Atualmente, graças a um diálogo maior entre as religiões, todos são respeitados e atuam conjuntamente para saudar São Benedito.

O futuro da festa preocupa. Os mais velhos e grandes conhecedores da cultura popular estão morrendo. Os mais novos parecem desinteressados. Neste ano, depois de três anos sem a festa completa, tive esperança. Vi muitas crianças participando das procissões. Como sempre, é necessária muita dedicação e resistência para que as manifestações do povo, do pobre e do marginalizado sobreviva. A tradição resiste, a fé resiste, a cultura popular resiste.

Se você quiser saber mais sobre a Festa de São Benedito, assista ao documentário: Festa de São Benedito – Um século de resistência.

Talitha Castro

Sou Administradora e Guia de Turismo, nascida em Poços de Caldas, Minas Gerais e, apaixonada pela exuberância natural, cultural e patrimonial da região.

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2 comentários

  1. Essa festa é uma manifestação popular incrível e uma das tradições que mais amo em Pocos de Caldas. O festejo fez falta durante a pandemia, mas foi uma experiência maravilhosa poder voltar a vivenciar a Festa de São Benedito! Já estou ansioso pela próxima hahahaha

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